Estava de costas para a porta e o nervoso miudinho decidiu fazer uma espécie de turismo gástrico, ocupando o espaço que estava reservado para o jantar. Umas mãos macias bloquearam a minha visão. Limitei-me a tocá-las, esperando que a identidade me fosse gratuitamente revelada. Nada. Estendi os braços para trás, na tentativa de obter mais pistas... E pensei reconhecer os cabelos.
- Mãe?!
Afinal, quem mais, com aqueles caracóis selvagens, me encontraria ali, momentos antes do concerto?
Na verdade, foi outra pessoa especial quem me tapou os olhos e me surpreendeu com a sua visita inesperada. Embrenhei-me depois na conversa com todos os amigos que se deslocaram até Pombal para me apoiar, consegui expulsar o Sr. Nervosinho Estúpido e diverti-me à grande, naquela noite. De violino em riste e com uma excelente claque, seria impossível esconder os sorrisos de alegria.
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Poucos dias depois, cheguei ao Telhal, onde me esperava uma semana de voluntariado numa instituição de saúde mental e psiquiatria. Conheci colegas fantásticos e utentes amorosos. Os voluntários, identificados pelas batas azuis, recebem abraços com uma frequência estonteante. Sorrimos a cada pessoa que se cruza connosco, nos túneis subterrâneos ou nos grandes jardins da instituição. E, após uma semana com estes hábitos (que deviam ser mais frequentes cá fora), cheguei à estação de Santa Apolónia com um olhar diferente. Limpei algumas manchas acumuladas no espelho da alma. Uma alma verde - se é que o ditado está correto -, mas a amadurecer com o auxílio destas experiências.
Quando voltei, dirigi-me a desconhecidos com uma espontaneidade e simplicidade mais apuradas, como se tivesse feito uma desintoxicação interior. Um empecilho na estrada? Be happy. Uma miúda com um estilo duvidoso e que me faria pensar que o mundo está perdido? Be happy. Acreditem que, depois de verificarmos as limitações que certos doentes têm, o nosso sentido crítico se altera. E esta é uma das razões para aconselhar qualquer um a fazer voluntariado com pessoas com patologia mental. Umas horas, um dia, uma ou mais semanas... Mas se durar, no mínimo, uns dias e tiverem acesso limitado à net... Ui, é a desintoxicação perfeita. Tchau, futilidades!
Do palco, com vestido, à Casa de Saúde do Telhal, com bata, fui feliz. O que mais poderia pedir, se a música e o contacto com os doentes me preenchem? Porém, chegou agora o tempo de descansar, ler, dormir, armar-me em ciclista... e voltar a ter disponibilidade para dar voz à BB. Tempo de fazer um voluntariado diferente, que consiste simplesmente em dar atenção a mim própria, sem prazos, sem resultados académicos e com escassos horários para cumprir. Olá, estou de volta.
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