(Parte I aqui)
Malditos cabelos indomáveis! Desisto!
E não foi, de todo, má ideia. Madalena desconhece este facto, mas Esteban acha-a mais atraente com os cabelos soltos. Talvez pela liberdade de movimento. Ou pelo contraste que fazem com a pele clara da rapariga mais interessante que já conhecera. Talvez, e mais provavelmente, porque anseia tocar no seu cabelo e dizer-lhe como é lindo, aproveitando a deixa para a beijar. Sim, o desemprego deixou ao rapaz muito tempo livre: claramente, dedicou-se demasiado aos canais de cinema, já que nunca vira tão apuradas as suas facetas romântica e utópica.
Tendo desistido de se pentear, Madalena vestiu o casaco e dirigiu-se com passos rápidos, já atrasados, para o carro. Ainda assim, parou para verificar a caixa do correio.
Horas depois, escreveu a seguinte carta:
"Valência, 10 de dezembro de 2014
Sãozinha, sua teimosa, nem acredito que te estou a escrever uma carta de papel! Aviso-te já: se me enganar, vou riscar. Já tens muita sorte por estar a comunicar contigo como se fosses minha tetravó. Não tenho corretor em casa. (Pensando no assunto, será que ainda há alguém que compre disso? Os fabricantes não devem ver o seu negócio bem encaminhado nos últimos tempos, não…)
Antes de falar de mim: tranquiliza-te, rapariga. Se tivesses Facebook, sabias que o Tomás está numa missão de voluntariado durante duas semanas. Sem telemóvel! Olha, ele é que é bom para ti. Aceitar a condição de estar esta imensidão de tempo sem usar aparelhos eletrónicos? Eu não conseguia. Deve ser a tua alma gémea.
Nem tive tempo de te expliar explicar a minha atitude com o Artur. Aconteceu tudo tão depressa… Tinha que agarrar rapidamente a vaga: era a minha oportunidade de mudar o triste rumo que a minha vida começou a seguir. Preferia contar-te pessoalmente, mas antes tinha que “digerir” o assunto…
Descobri que ele e a minha irmã já tiveram um namorico, há uns anos. Não foi sério e, aparentemente, durou pouco. Porém, não podia deixar avançar isto, não após a reação dela. O Artur pode ser lindo, interessante, um autêntico príncipe… Mas não sabe que somos irmãs e prefiro que as coisas continuem assim. Antes desiludido do que a pressioná-la para que “autorize” a nossa relação… Ela não precisa destes dramas. Nem eu.
A Joana é que parece ter alguns com o marido, segundo as redes sociais… Talvez seja por isso que está em modo parasita, aí no escritório. Não sinto a falta dela nem do seu feitio.
Já eu, aqui, não tenho razão de queixa. Apesar de ainda não me ter adaptado completamente, este recomeço não está a ser tão difícil como imaginei. Acolheram-me maravilhosamente. E tenho novidades… Ainda penso no Artur todos os dias, mas conheci um homem (chama-se Esteban) no Ibis. Hoje jantei com ele e foi agradável. Parece que simpatizou comigo, quando lhe fiz o check-in. É um artista. Está numa fase menos boa, a nível profissional, no entanto emana alegria como se nada se passasse. Admiro-o por isso. E está cá de passagem, à procura de patrocinadores! Talvez eu tenha direito a mais um jantar, antes de ele se ir embora. Ou talvez ele fique na cidade e tenhamos muitos mais jantares. Ou talvez ele nem me volte a ligar…
Adorei receber notícias tuas. Não poderei ter férias pelo Natal, mas fico à espera da tua visita! Levo-te a ver o maior aquário da Europa, que tal?
Um abraço forte, daqueles que me deixam tantas saudades.
Madalena"
(continua...)
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