- Mana, vamos tocar a Newborn?
Ele pegava na guitarra azul, da cor dos seus olhos, e ligava-a ao amplificador Marshall. Eu apertava o arco e colocava o violino em riste. E nisto ocupávamos grande parte do nosso tempo livre.
Com pouco mais do que uma década de vida, eu tentava assemelhar-me à Shakira e cantava “Nenever, nenever, uare rhiogpwpanhdfçhlm" (entre outros vocábulos que não pertencem a qualquer idioma). Interpretávamos temas de Robbie Williams, Avril Lavigne… Mas a Newborn, dos Muse, era a nossa favorita.
Cerca de 10 anos depois...
- Mano, queres ir ver os Muse, em Maio?
E já temos os bilhetes! 🎶
(Não, também não sei porque ando escrever os posts em formato de conto, em vez de ser objetiva e ir direta ao assunto, tipo “Leitores lindos, vou ver os Muse e estou muito feliiizzz! Subscrevam o meu canal inexistente do youtube e deixem um gosto no facebook e deixem um comentário e tal e coiso". É... este blog deve estar às portas da morte!)
Estava de costas para a porta e o nervoso miudinho decidiu fazer uma espécie de turismo gástrico, ocupando o espaço que estava reservado para o jantar. Umas mãos macias bloquearam a minha visão. Limitei-me a tocá-las, esperando que a identidade me fosse gratuitamente revelada. Nada. Estendi os braços para trás, na tentativa de obter mais pistas... E pensei reconhecer os cabelos.
- Mãe?!
Afinal, quem mais, com aqueles caracóis selvagens, me encontraria ali, momentos antes do concerto?
Na verdade, foi outra pessoa especial quem me tapou os olhos e me surpreendeu com a sua visita inesperada. Embrenhei-me depois na conversa com todos os amigos que se deslocaram até Pombal para me apoiar, consegui expulsar o Sr. Nervosinho Estúpido e diverti-me à grande, naquela noite. De violino em riste e com uma excelente claque, seria impossível esconder os sorrisos de alegria.
Fotos e vídeos na nossa página de facebook
Poucos dias depois, cheguei ao Telhal, onde me esperava uma semana de voluntariado numa instituição de saúde mental e psiquiatria. Conheci colegas fantásticos e utentes amorosos. Os voluntários, identificados pelas batas azuis, recebem abraços com uma frequência estonteante. Sorrimos a cada pessoa que se cruza connosco, nos túneis subterrâneos ou nos grandes jardins da instituição. E, após uma semana com estes hábitos (que deviam ser mais frequentes cá fora), cheguei à estação de Santa Apolónia com um olhar diferente. Limpei algumas manchas acumuladas no espelho da alma. Uma alma verde - se é que o ditado está correto -, mas a amadurecer com o auxílio destas experiências.
Quando voltei, dirigi-me a desconhecidos com uma espontaneidade e simplicidade mais apuradas, como se tivesse feito uma desintoxicação interior. Um empecilho na estrada? Be happy. Uma miúda com um estilo duvidoso e que me faria pensar que o mundo está perdido? Be happy. Acreditem que, depois de verificarmos as limitações que certos doentes têm, o nosso sentido crítico se altera. E esta é uma das razões para aconselhar qualquer um a fazer voluntariado com pessoas com patologia mental. Umas horas, um dia, uma ou mais semanas... Mas se durar, no mínimo, uns dias e tiverem acesso limitado à net... Ui, é a desintoxicação perfeita. Tchau, futilidades!
Do palco, com vestido, à Casa de Saúde do Telhal, com bata, fui feliz. O que mais poderia pedir, se a música e o contacto com os doentes me preenchem? Porém, chegou agora o tempo de descansar, ler, dormir, armar-me em ciclista... e voltar a ter disponibilidade para dar voz à BB. Tempo de fazer um voluntariado diferente, que consiste simplesmente em dar atenção a mim própria, sem prazos, sem resultados académicos e com escassos horários para cumprir. Olá, estou de volta.
Por culpa do Paulo, tenho estado a cantar uma música francesa em modo repeat. E talvez as minhas segundas vozes estejam numa tonalidade involuntariamente escolhida por mim, diferente da original.
Ai, ó BB, achas que alguém quer saber o que estás a ouvir?
Claro que querem. Não se queixem, ok?
As outras opções para um post, tendo em conta a monotonia que o estudo traz à minha vida, seriam:
1) Mostrar uma foto da minha companheira de estudo: uma borracha que está grávida de uma ovelha.
2) Partilhar informação sobre a matéria estudada (gastrenterologia).
Vá, cantem comigo:
Vale a pena verem este vídeo que roubei do facebook de um amigo.
Apesar de ser uma paródia, acho que até representa de uma forma bastante acertada a função dos DJs!
E esta profissão é tão exigente que até há artistas com 2 anos de idade na área!
(Clicar na imagem para ler mais)
No passado domingo, com perspetiva de segunda-feira livre e sem ter que ir para Coimbra, pude ver o Got Talent tuga.
Estava a saborear descontraidamente aquela atividade incomum no meu dia-a-dia (estar deitada no sofá), até que o Francisco Monteiro começou a dar vida ao seu acordeão.
– Chiu, não façam barulho! – alertei de imediato quem me rodeava. Peguei no comando e aumentei o volume da TV.
Astor Piazolla! Ele estava a interpretar Astor Piazzolla. Antes que pensem que sou maluquinha, fiquei assim tão exaltada porque também já toquei Libertango (no violino, claro) e adorei voltar a ouvir o tema, tocado com tanta paixão e uma rapidez que eu desconhecia.
O Francisco tem 15 anos e foi o seu avô quem lhe ofereceu o acordeão. A avó também teve um papel muito importante: tratou de o inscrever no Got Talent Portugal.
Como às vezes me dá para ser desavergonhada - e não é só com a Manuela Moura Guedes -, perguntei-lhe umas coisitas (poucas, para não distrair o rapaz dos seus ensaios):
BB - Imaginas-te acordeonista a tempo inteiro? Ou há algo mais que queiras fazer, no futuro?
Francisco - Eu neste momento estou no secundário, no curso de ciências e tecnologias, e no de música ao mesmo tempo. Tudo depende do que acontecer no futuro, mas sim imagino-me músico a tempo inteiro e dar concertos por todo o mundo.
BB - Gostas mais de tocar em conjunto ou a solo? Porquê?
Francisco - Gosto de ambas. Gosto de tocar em conjunto porque acho muito interessante o que é possível fazer com dois ou mais instrumentos a tocar em conjunto. Gosto de tocar solo porque posso interpretar a música que estou a tocar à minha maneira, sem ter que estar atento a pormenores muito técnicos como pulsação rítmica, etc.
BB - Se pudesses tocar com um(a) violinista, quem escolherias? Dica: a resposta certa começa com “D” e acaba em “ora”! xD
Francisco - Penso que a resposta só poderá ser Dora ahah
Quem conhece bons violinistas, quem é? O Francisco!
E é cá dos meus: estuda simultaneamente Música e Ciências. Como se não bastasse, ainda sabe cantar e pratica taekwondo.
Tudo a torcer pelo Francisco Monteiro, na gala do dia 12 de abril!
Só por me ter aturado, já merece um montão de votos! :P
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