Cheguei à praia e, contra todos os rituais que cumprimos antes de nos instalarmos na toalha, vesti a camisola. (Bendita camisola que ficou no carro por esquecimento, há dias.)
Como eu imaginei que seria a minha tarde:
Como realmente foi:
(A
43 e picos teve mais sorte que eu! Vejam a diferença!)
E lá estava eu, vestida. Logo hoje, que tinha acabado de descobrir que me enquadro na "tendência" deste verão. Chamam-lhe biquini bridge. Não me convenceram e continuo a achar que as cuecas daquele biquini estão simplesmente um pouco largas.
E quase deixei escapar algumas lágrimas.
Mas não foi devido ao mau tempo, a modas parvas ou a outras outras insignificâncias. Uma voz diferente captou a minha atenção. Olhei em volta e reparei que provinha de uma senhora com graves problemas de fala. Comunicava com o filho através de uma linguagem que, para mim, representava apenas um conjunto aleatório de sons.
Admirei-os e senti-me desiludida comigo mesma, por ter preocupações tão superficiais. Com ou sem nuvens, tenho toda a liberdade para dialogar com alguém, sem que cada frase pronunciada se traduza num obstáculo.
Considero pertinente a minha intervenção aqui, pela majestosa interação da 43epicos.
Ao ler a tua publicação, o primeiro pensamento que me ocorreu foi "Será uma excelente médica".
Sim, é preciso sabermos colocarmo-nos no lugar dos outros para melhor os entender. Sim, é preciso respeitar porque fácil é dizer "eles entendem-se" e em nós centralizarmos a nossa atenção. Diferentes são os problemas da linguagem e da fala. Também diferentes são as suas causas. Neste caso, parece-me que não te referes a um caso de uma portadora de surdez que procura fazer-se entender por um filho ouvinte. Mesmo se assim fosse, o filho tem que aprender linguagem gestual. Existem situações de deficiência, incluindo a mental, na qual a fala é afetada. Alguns filhos entendem, até certo ponto. Por acaso, há 2 anos, tive uma aluna, numa turma PCA, durante 2 anos, que em nada parecia filha de pais tão afetados. E destaque-se, carinhosos com ela. Mas talvez por isso, muito pouco ajudados economicamente. Era frequente vê-la com os bolsos do casaco cheios de pães, da cantina, que levava para os pais pois "eles gostam muito", como dizia.
Contudo, outras situações há. Pessoas que operadas foram, para remoção de um tumor e quase não se conseguem expressar, casos de síndromas e tantos outros. Não merecem sim a nossa pena porque "ter pena é não gostar de alguém" (A Insustentável Leveza do Ser".
Essas pessoas que referiste merecem que as tratemos de forma natural, sem nos focarmos apenas nas diferenças...
O caso que presenciei pareceu-me ser de uma senhora sem problemas auditivos. Mas se os tivesse, tens toda a razão: o filho iria aprender linguagem gestual (quem sabe, ainda antes de saber falar! :P).
Fico muito lisonjeada por acreditares que vou ser uma boa profissional! Também deduzo que sejas um professor com muita sensibilidade para lidar com os jovens.
Beijinhos :)
E deves sentir-te lisonjeada. Pena não poderes disseminar essa sensibilidade por alguns colegas teus não só da tua área, como também de outras, incluindo a minha. Bem, há quem diga que as mais importantes são a saúde e a educação...
O meu médico preferido e sempre com a agenda lotada deve-o, em meu entender, sobretudo à atenção e sensibilidade com a qual recebe os doentes. Para mim acresce, a explicação detalhada da doença. Sinceramente, tenho 99% de certeza da tua competência. Ouso mesmo afirmar que seguiste medicina por vocação. Apesar de grande defensor dos sentimentos, há que estar atento a este envolvimento em contexto profissional, por forma a evitar o síndroma de Burnout. Creio que vocês tem preparação para tal. Nós professores não. Então, quando estive na Educação Especial, quando esta correspondia àquilo que gostava, podendo trabalhar com casos de droga, violação, etc, etc, deparei-me com este Síndroma. Demorei tanto para o superar. Foram anos! Porém, continuo a agir de acordo com o meu coração sem me arrepender. E os blogues são excelentes para aliviar a alma. Aqui fica uma dica
Obrigada pelos elogios. :)
Já fomos alertados para o Burnout, sim... O envolvimento emocional, os horários incertos e variáveis e o contacto constante com pessoas com dificuldades são fatores que o podem desencadear.
Também os professores, principalmente se trabalharem com esses casos que referiste, podem ter a tendência a envolver-se demasiado. Espero conseguir deixar o trabalho para trás, quando for para casa, de forma a evitá-lo.
Deves ter tido uma dura batalha, mas fico muito feliz por ter sido superada!!! :)
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