Quinta-feira, 5 de Março de 2015

Será que uma ação nos pode prender para toda a vida?

 

Ontem, abracei a prisão de Coimbra.

Dezenas de pessoas, de braços esticados num cordão humano, abraçaram o muro alto que esconde uma realidade tão ignorada.

 

Foi à volta da penitenciária que se leram alguns textos, entoámos cânticos, ouvimos testemunhos e realizámos gestos simbólicos, numa atitude de reflexão acerca da importância da reabilitação dos reclusos.

 

Penitenciária de Coimbra.jpg

 Penitenciária de Coimbra (imagem original aqui)

 

Pudemos contar com as sábias palavras de vários oradores:

 

- Pe. Paulo Simões, capelão da Universidade de Coimbra e diretor do Instituto Universitário Justiça e Paz;

- Laborinho Lúcio, juiz e antigo ministro da justiça;

- Maria Graça Campos, professora universitária e voluntária na Penitenciária de Coimbra;

- Pe. João Gonçalves, coordenador nacional do trabalho da Igreja nas prisões;

- Frei Paulo Fappani, capelão da Penitenciária de Coimbra;

- Johnson Semedo, um homem que recuperou de um passado na rua, durante o qual tomou contacto com a toxicodependência e a criminalidade.

 

O discurso do Johnson foi o que mais me impressionou, nesta Via Sacra, como podem facilmente compreender. Acompanhado da sua família, relatou brevemente a forma como os presidiários são despersonalizados. Mencionou que o seu nome transformou-se num número e que passava 23 horas por dia num cubículo. Confessou-nos que foram o sonho e a esperança que lhe deram forças para conseguir querer ser outra pessoa e se reintegrar com sucesso. Hoje, é pai, autor do livro “Estou tranquilo” e tem a sua própria academia - Academia do Johnson -, onde ajuda a afastar várias crianças de um percurso semelhante ao seu.

Foi assim que Johnson, que passou 10 anos privado de liberdade, respondeu à pergunta que intitula este post:

 

Quando bato à porta, não me perguntam "quem foste?”. 

Perguntam "quem és?".

 

Depois desta Via Sacra, cujo mote era “Porque não há vidas sem futuro”, regressámos aos nossos lares com uma grande vontade de quebrar os preconceitos que assombram tantos presidiários e ex-presidiários. Se o preconceito for abolido e conseguirmos reintegrar os antigos reclusos na nossa sociedade, estaremos a contribuir para que a sua reabilitação seja bem-sucedida e possam, depois de tantas vivências atribuladas, encontrar finalmente o seu caminho de felicidade.

 
Voltámos com a certeza de que a realização de atividades (como aquelas realizadas por voluntários) que permitam que os detidos encontrem uma fonte de prazer e/ou esperança durante o tempo de detenção é crucial, para que não se limitem a acumular um gigante sentimento de revolta, ódio ou infelicidade, que em nada contribuirá para a sua recapacitação.

 
Como o Pe. Paulo Simões afirmou (ler mais aqui), “a prisão pode não ser um cancro numa cidade, mas pode ser um laboratório de vida nova”.

  

publicado por BataeBatom às 12:36
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De Maria Araújo a 5 de Março de 2015
Sem palavras.

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